Por Jean Carlos
Gonçalves.
Não se trata de tanta beleza física. Eu reconheço. Pois não
representa o que há de mais moderno em arquitetura e/ou engenharia civil contemporânea.
Para isto entender, basta examinar seu contexto de surgimento. Perceber-se-á
facilmente, que se trata de um produto de seu tempo histórico, naturalmente determinado
pela estruturas vigentes da sociedade de então.
Sua gênese dar-se numa pequenina cidade do interior do
Maranhão na segunda metade do século XX, numa conjuntura de disputa política
local. Mais precisamente das eleições de municipais de 1963 entre Edésio Gomes
Fialho e Luís Gonzaga da Cunha, a qual fortemente marcada pelas rugas da
discórdia, da intolerância, do desrespeito às liberdades individuais.
Nessa época, Tuntum já não era ilha isolada em si mesma.
Serviu de cenário também para o teatro das lutas políticas estaduais.
Em 1963 presidia a República do Brasil, João Goulart, e tinha
em sua base aliada o então governador do Maranhão, Newton Belo. O presidente
apresentou a época um conjunto de medidas políticas que se constituíam reformas
nunca antes anunciadas por um chefe do Estado Nacional: as famosas e malogradas
Reformas de Base. Um pacote de medidas em diversos setores, que uma vez
aplicadas desdobrariam em mudanças profundas na sociedade brasileira. Deste
modo, João Goulart, evidentemente, necessitava de uma base sólida de apóio no
Parlamento Nacional. Então, articulou junto ao governador do Maranhão, para que
o mesmo garantisse os votos dos parlamentares do Maranhão para aprovarem o
projeto do Governo Federal.
Contemporâneo a esses acontecimentos, administrava o
município de Tuntum, em seu último ano de mandato, o Srº Ariston Arruda Leda,
que sua vez apoiara Luiz Gonzaga, como seu sucessor. Ariston era tio do então Deputado
Federal Eurico Ribeiro, que rompera com Newton Belo, comprometendo o projeto do
Presidente da República. Em consequência, governador, em retaliação, resolve
minar as bases eleitorais de Eurico Ribeiro, que tinha em Tuntum, um importante
reduto eleitoral. Assim sendo, o governo estadual, concentra forças coercitivas,
capitaneada aqui na região pelo deputado situacionista Ariston Costa, para
desestabilizar o projeto de sucessão de Ariston Leda, aliado de Eurico e desafeto
de Newton Belo.
O governo então destinou recursos para o município, e uma das
formas de aplicação foi através da construção de uma escola pública para o
ensino elementar de 1º a 4º ano. O curioso é que o “porta voz”, “embaixador” do
Estado era Edésio Fialho, candidato opositor ao grupo do prefeito Ariston Léda.
Assim, nesse contexto de nefasta disputa política, já mencionadas acima, nasce
em dois meses (de campanha eleitoral municipal) o Grupo Escolar Estado do Maranhão.
Diante do exposto, reconheçamos: não se poderia esperar um
projeto de Oscar Niemayer ou Lúcio Costa. O que se justifica pelas breves semanas
(oito aproximadamente) de sua construção. Considerações necessárias, para
compreendermos o porquê das reminiscências do tempo de sua fundação presente
nos dias atuais.
Entretanto, cabe citar o modo simples, mas oportuno que o
grande educador Paulo Freire registrou em seu poema “Escola”:
o lugar onde se faz amigos,
não se trata só de prédios, salas, quadros, programas,
horários, conceitos...
Escola é, sobretudo, gente, gente que trabalha, que estuda,
que se alegra, se conhece, se estima.[...]”
Desse modo, diante de seu caráter de humanidade, que supera
sua constituição física, posso utilizar uma infinidade das mais belas palavras,
símbolo das maiores e mais desejadas virtudes e não conseguirei expressar o
quanto representa para nós, para o nosso povo, o Centro de Ensino Estado do Maranhão,
o nosso velho e amado “O BANDEIRANTE”, ao longo de suas cinco décadas de
existência.
Assim, como a empolgação deste momento tão sublime, tenho a
ousadia de aqui registrar: Nossa ESCOLA é patrimônio público, patrimônio
histórico, lugar de memória, espaço de sociabilidade, local de trabalho, de
emancipação intelectual, profissional, financeira, exercício de solidariedade,
de amizade, palco de conflitos, de tensões, por que não? Afinal Ela é feita por seres
humanos, é reflexo de nossa sociedade permeada de contradições, todavia, nem
por isso, perde seu brilho, sua magia, seu encanto. Basta reconhecer, a partir
da concretude de nossa realidade que esta memorável e, sobretudo, dinâmica e
viva instituição por gerações e gerações tem cumprido sua função social, tem
oportunizado conhecimento, valores, trabalho, cidadania, dignidade humana.
Quantos filhos de Tuntum sentaram em seus bancos, e hoje ocupam
lugar de destaque em nosso meio, Maranhão, Brasil... Quantos anônimos que
ganharam o mundo... Quantos emigrados foram recebidos, acolhidos... Todos ofertados
com as mesmas condições e oportunidades.
É nessa perspectiva, que se configura, a sua grandeza, A
VERDADEIRA BELEZA. Status este, que aí não se encerra, visto que alimenta a
chama do amor, do sonho, da esperança... Que norteia a todos que te fazem, e
paradoxalmente, são feitos por ti, amado BANDEIRANTE.
Também reconhecemos em ti, um verdadeiro símbolo de
resistência, pois com tantas mazelas sociais, com todos os obstáculos que a
escola publica vivencia, reluta em oferecer um caminho alternativo.
Portanto, neste dia 3 de outubro que ora comemoramos e
rememoramos... Diante do reconhecimento prestado, também CONCLAMAMOS a todos
que o fazem: Gestão, Corpo docente, corpo discente, demais funcionários,
comunidade escolar... Retribuamos, façamos desta ímpar instituição, MAIOR, MELHOR,
MUITO MELHOR.